Arcebispo de Moscovo desvaloriza ideia da “conversão da Rússia” difundida em Fátima
O arcebispo católico de Moscovo, o italiano Paolo Pezzi, disse hoje em Fátima que o clima entre o Vaticano e a Igreja Ortodoxa Russa é muito mais amistoso do que há poucos anos, mas ainda não chegou o momento de um encontro entre o Papa Bento XVI e o patriarca Cirilo.
Convidado pelo bispo de Leiria-Fátima, António Marto, para presidir à última grande peregrinação deste ano, Pezzi afirmou que o processo de aproximação entre a Igreja Católica e a Igreja Ortodoxa Russa foi “na linha de descobrir e conhecer melhor quais são as raízes comuns” de ambas as comunidades. O actual arcebispo, que está no cargo há quatro anos, ajudou a melhorar o ambiente de diálogo com a Igreja Ortodoxa Russa, disse o bispo de Leiria.
António Marto acrescentou que o convite a Paolo Pezzi pretendeu, assim, renovar os “laços de ordem afectiva e espiritual” entre Fátima e a Rússia, de modo a ajudar ao “progresso ecuménico entre a Igreja Católica e a Igreja Ortodoxa”.
Para já, no entanto, “não se pode falar de uma comunhão plena ou qualquer coisa de similar” entre as duas igrejas, disse o arcebispo Pezzi. Há “diferenças e incompreensões que permanecem, mesmo sobre alguns aspectos do conteúdo da fé”, admitiu. “Mas há a possibilidade de uma acção comum, de um testemunho comum ao homem moderno porque, tanto na Rússia como na Europa Ocidental, há necessidade de um anúncio de Cristo”.
Esta aproximação colocou em agenda “a possibilidade de um encontro entre o Papa e o patriarca Cirilo”, da Igreja Ortodoxa Russa. “O conteúdo deste encontro ainda não está acordado, não há posições comuns. Ele é desejado, mas ainda não se pode dizer que será concretizado daqui a seis meses ou um ano, isso ainda não é possível.”
Entre as duas alternativas – visita do Papa a Moscovo ou um encontro entre Bento XVI e Cirilo em Roma – o arcebispo considerou que uma ida do patriarca russo a Roma será “talvez a mais fácil de realizar”. Mas Cirilo ainda não visitou todos os patriarcas ortodoxos e, por isso, não deverá visitar antes o Papa Bento XVI.
Uma eventual visita do Papa Ratzinger a Moscovo poderia não ser “acolhida positivamente pela Igreja Ortodoxa Russa”, admitiu o arcebispo Pezzi. Quer João Paulo II quer Bento XVI foram convidados pelas autoridades russas. Mas ambos entenderam não a fazer “se não houvesse um acolhimento pleno da Igreja Ortodoxa Russa”, disse.
Antes de iniciar as cerimónias da peregrinação de hoje e amanhã em Fátima, com menos afluência do que habitualmente, o arcebispo desvalorizou também implicitamente a ideia da “conversão da Rússia” tantas vezes referida durante décadas no santuário e em textos da vidente Lúcia, posteriores aos acontecimentos de 1917.
O que lhe interessa, disse Paolo Pezzi, é a conversão das pessoas “a Cristo”. Aliás, acrescentou, quando chegou à Rússia há quase vinte anos, o actual arcebispo católico de Moscovo encontrou um “quase desconhecimento” sobre as “aparições de Fátima”.
“Sabemos que a Rússia é terra em que a maioria da população professa o cristianismo ortodoxo. Este cristianismo, na sua substância, é o cristianismo que professa a Igreja Católica”, afirmou, relativizando a ideia da “conversão da Rússia”, tantas vezes repetida em Fátima ou por alguns grupos católicos.
Por isso, o arcebispo prefere falar antes de “conversão ao cristianismo, ao próprio Cristo”, para que todas as pessoas e os russos em particular, “olhem para Cristo”.
Com o arcebispo, vieram a Fátima 130 russos, de grupos oriundos de Moscovo, São Petersburgo e Kaliningrado. A vinda a Fátima, disse, “é uma ocasião de trazer toda a nossa Igreja nesta peregrinação, para que nas nossas terras se possa viver um cristianismo mais autêntico, mais capaz de construir uma sociedade em que o bem para o homem esteja no primeiro lugar”, afirmou.
E o que vem pedir Paolo Pezzi a Fátima? “Que encontremos a conversão. Não há nada de maior e de mais belo. Alguém que não se converta já está morto.”