Crianças refugiadas aprendem a ler e escrever

14-07-2011 20:09

Crianças refugiadas aprendem a ler e escrever

Armando Sapalo | Dundo - 14 de Julho, 2011

Mais de cem crianças refugiadas em idade escolar, de diversas nacionalidades do Oeste e Norte de África, estão a ser alfabetizadas pelos Serviços Jesuítas para os Refugiados, na Lunda-Norte, revelou o coordenador daquela instituição da Igreja Católica.
Congo Cavunga disse que o objectivo do processo de alfabetização é o de facilitar a inserção social e cultural das crianças e proporcionar um clima de harmonia, paz e amizade no seio da comunidade. Além de aprenderem a ler e escrever, as crianças também adquirem conhecimentos sobre as regras de boa conduta social.
O projecto tem o financiamento do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) e consiste em ajudar todas as crianças refugiadas  em Angola que se encontram fora do sistema normal de ensino.
O processo, que teve início em 2010, é extensivo aos refugiados adultos e requerentes de asilo, estando nesta situação 60 indivíduos, 47 dos quais mulheres, integrando-se no Módulo-1, correspondente à primeira e segunda classe, enquanto os restantes estão enquadrados no Módulo-2, que corresponde à terceira e quarta classe.
Os alunos debatem-se com escassez de material didáctico, mas Congo Cavunga garantiu que a pretensão dos seus serviços é atingir um total de 160 refugiados alfabetizados até ao final do ano, com destaque para mulheres e crianças, por apresentarem maior índice de analfabetismo. O processo é assegurado por seis alfabetizadores recrutados localmente e dotados de técnicas modernas de transmissão de conhecimentos, para conferir um ensino de qualidade e com boas perspectivas para o futuro dos refugiados que se encontram no país.
Congo Cavunga salientou que o ACNUR e os Serviços Jesuítas vão continuar a desenvolver acções do género no seio da comunidade de refugiados, onde os níveis de escolaridade são ainda muito insignificantes. Para facilitar o trabalho, o responsável chamou a atenção para a necessidade das autoridades locais procurarem imprimir maior dinamismo à entrega dos documentos que vão permitir a inserção destas crianças no sistema de ensino e aprendizagem.
“Nós vamos continuar a desenvolver este trabalho, porque queremos, de certa forma, integrar os objectivos preconizados pelo Executivo angolano que visam a redução gradual do analfabetismo.
 Estamos a pedir que os Serviços de Notariado sejam um pouco mais céleres na atribuição das cédulas, no quadro dos acordos oficiais estabelecidos entre a ACNUR e os governos, para que as crianças sejam inseridas nas escolas propriamente ditas”, sublinhou.

Mais assistência

O coordenador adiantou que a instituição religiosa tem a seu cargo dois campos de refugiados nos municípios do Chitato (Candjamba) e Cambulo, nos quais estão concentrados cidadãos de 17 países das regiões Oeste e Norte de África, com destaque para os da República Democrática do Congo que, devido aos conflitos étnicos e políticos nas suas zonas de origem, optaram por se estabelecer em Angola.   Esses refugiados, declarou, estão a viver situações difíceis, particularmente no que diz respeito ao fornecimento de alimentos, assistência médica e condições de habitabilidade.
No total, referiu, vivem nestes campos 2.154 pessoas, mas apenas 216 conseguiram obter o estatuto de refugiado através do Comité de Reconhecimento do Direito de Asilo (COREDA), tendo manifestado não terem vontade de regressar aos seus países de origem, por insegurança. Congo Kavunga afirmou que, para o reforço da ajuda humanitário àquela população vulnerável, os Serviços Jesuítas trabalham com a direcção provincial do Ministério da Assistência e Reinserção Social para contornar algumas necessidades.
Defendeu ainda a aquisição de mais tendas e o enquadramento dos refugiados que possuem formação académica e profissional nos sectores sócio-produtivos, para garantir o sustento das famílias.

Atribuição de documentos

O coordenador provincial do COREDA na Lunda-Norte, António Manengo, reconheceu a existência de alguma morosidade por parte do organismo que dirige na atribuição dos documentos aos refugiados. Justificou, no entanto, que se trata de um assunto extremamente complexo, por envolver diversas instituições.
Segundo explicou o coordenador provincial na Lunda-Norte, durante a entrevista no Serviço de Migração e Estrangeiros (SME), muitos requerentes de asilo não têm sido objectivos, facto que contribui para o atraso na entrega dos documentos ao refugiado. Apesar disso,António Manengo garantiu que neste momento estão em fase avançada mais de cem  processos para conferir o estatuto de refugiado.

Fonte: https://jornaldeangola.sapo.ao/18/0/criancas_refugiadas_aprendem_a_ler_e_escrever