CNBB discute necessidade de bispos se aproximarem mais da sociedade

05-05-2011 12:50

CNBB discute necessidade de bispos se aproximarem mais da sociedade

Adauri Antunes Barbosa, enviado especial


 

APARECIDA (SP) - Os bispos brasileiros precisam direcionar as atividades da Igreja Católica para uma maior aproximação com a base da sociedade, conforme uma das pautas prioritárias que serão discutidas nos próximos dez dias durante a 49ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que começou nesta quarta-feira em Aparecida, no Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida. Para dom José Belisário da Silva, arcebispo de São Luís (MA), que coordena o grupo de bispos que formulou o projeto das novas diretrizes, os católicos, assim como toda a sociedade brasileira, devem trabalhar para resolver problemas do país, como a erradicação da miséria, que ainda atinge 12 milhões de pessoas no país.

A grande questão é que as nossas paróquias são muito grandes, especialmente as paróquias urbanas

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- A sociedade brasileira, e não só o governo, quer resolver essa questão (da miséria). Isso é muito positivo, são forças positivas surgidas no meio do nosso povo. Nas décadas de 60 e 70, época em que eu estudava, a gente pensava que isso se realizaria através de uma revolução, uma mudança rápida. Hoje em dia nós não pensamos mais em uma mudança rápida. Nós pensamos que essas mudanças serão fruto de um trabalho perseverante, permanente - defendeu o arcebispo.

Uma das formas de a Igreja colaborar com a nova realidade do país, o que deve constar nas diretrizes que vão orientar as mais de 10,2 mil paróquias de todo o país, é organizar a população em comunidades menores, a exemplo das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), para discutir seus problemas e chegar às soluções.

- A grande questão é que as nossas paróquias são muito grandes, especialmente as paróquias urbanas. Então, parece que a saída é nós nos organizarmos em comunidades menores - disse dom Belisário.

Nesta terça-feira, no começo da noite, o padre Mário França, professor da Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio, fez uma análise da "conjuntura eclesiástica" para a plenária dos bispos defendendo que a Igreja seja acolhedora das pessoas nas comunidades e deixe um pouco de lado o papel que as paróquias tem assumido, de agentes de serviço, que faz batismos e casamentos, por exemplo, sem de fato estarem voltadas para as pessoas.

- Precisamos redirecionar as paróquias que hoje são agentes de serviços, não são de fato comunidade. É preciso que os leigos participem mais, mas com papel ativo e não mais passivo - defendeu o padre.

Segundo ele, os católicos estão aprendendo a ser mais uma voz na sociedade e a entrar nas discussões e debates também para escutar. Questões polêmicas para os católicos, como o aborto e o fim do casamento, para o professor da PUC, devem ser encaradas de outra forma.

- É preciso considerar que a Igreja levou 16 séculos para admitir a escravidão como um absurdo para a humanidade. Assim, um casal pode ter uma segunda, ou terceira chance (no casamento). A Igreja não vai abrir mão da defesa do nascituro, mas precisa considerar o 'mal menor' (aborto) e julgar o bem maior com uma visão mais complexa - defendeu o padre na reunião dos bispos.

Durante à tarde desta terça-feira o presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Márcio Pochmann, fez uma análise de "conjuntura social" para a plenária da assembleia geral dos bispos e respondeu questões que preocupam o episcopado, como o envelhecimento da população brasileira, o novo perfil das famílias e o fluxo migratório do país.

Outro tema prioritário da 49ª Assembleia Geral da CNBB, ao lado das diretrizes que devem ser seguidas pela Igreja, é a eleição da nova direção da entidade. A partir da próxima segunda-feira começarão a ser eleitos os componentes das 10 comissões permanentes, que tomam as decisões por temas, que são encaminhadas à assembleia geral. Durante as negociações e composições internas das comissões devem surgir os nomes dos candidatos à presidência, vice-presidência e secretário-geral da CNBB.

Nesta quarta-feira, nenhum dos bispos que participam da assembleia, dos 336 inscritos, quis arriscar qualquer palpite sobre os possíveis candidatos. O que todos também admitem é que o atual presidente, dom Geraldo Lyrio Rocha, arcebispo de Mariana (MG), não será candidato à reeleição, conforme tem manifestado frequentemente. O secretário-geral dom Dimas Lara Barbosa, bispo auxiliar do Rio de Janeiro, forte candidato à presidência, foi nomeado nesta terça-feira pelo Papa Bento 16 como arcebispo de Campo Grande (MS) e, com a nova atribuição, fica praticamente fora da disputa. O arcebispo de Salvador, dom Murilo Krieger, pode ser um dos candidatos a presidente da CNBB. A eleição acontece no dia 13 de maio.


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