Devoção mariana
A piedade popular dedica este mês de maio a Nossa Senhora.
Antigamente, quando as Missas não se celebravam senão antes do meio dia, as paróquias promoviam à noite celebrações em louvor à Virgem Santíssima. Eram terços, ladainhas, ofertas de flores, cantos e, nos últimos dias, coroação da imagem de Nossa Senhora, geralmente feita por crianças. Coisas bonitas, simples que recendiam fé e confiança. Mudaram-se os tempos. É de se esperar que não se tenha mudado o amor à Mãe de Deus.
O Bem Aventurado João Paulo II em 1987 presenteou a Igreja com bela e profunda reflexão sobre Maria Santíssima. É a Encíclica “Redemptoris Mater” em que o Papa mostra Maria no Mistério de Cristo, como a mulher cheia de fé, que Jesus nos deu como mãe no alto da cruz. A partir daí Ele nos apresenta a Mãe de Deus no coração da Igreja peregrina, acompanhando a vida apostólica com seu exemplo, sua fé, “sua participação íntima na história da salvação”. É por isto que todos os cristãos, tanto católicos como ortodoxos – lembra o Papa – têm por ela tão grande afeto e carinho, como se vê, por exemplo, na anáfora de São João Crisóstomo. Logo após a epíclese, a comunidade canta: “é justo proclamar-vos bem aventura, ó Deípara, que sois felicíssima, toda pura e Mãe de nosso Deus (...), mais digna de honra do que os querubins e incomparavelmente mais gloriosa que os serafins”. E para concluir sua reflexão, o documento pontifício fala da mediação materna de Maria, parte esta que se poderia intitular como “Maria no coração do povo”. Sente-se-lhe a alma no canto do “Magnificat”, cujas palavras “no limiar da casa de Isabel, constituem uma inspirada profissão desta fé (...) com a elevação religiosa e poética de todo o seu ser no sentido de Deus. É o êxtase de seu coração”, remata o Papa.
Não sem razão, Dante na Divina Comédia dirige-se a Maria nos conhecidos versos: “Virgem Mãe, filha de Teu Filho, humilde e superior à criatura, em ti misericórdia, em ti piedade, em ti magnificência, em ti se aduna na criatura o que haja de bondade” (Paraíso, 33).
Confiança tem o povo cristão em Nossa Senhora pela bondade e misericórdia com que foi privilegiadamente dotada. Prova disto é que tantos carregam consigo o rosário de Maria para rezar-lhe. Até o morto parece querer entrar no céu com o terço entrelaçado nas mãos... Por isto um dos nossos poetas, por aqui nascido, cantou em verso seu amor ao rosário de Maria: “Rosário santo, meu vergel de rosas, \ não conheces o mal das invernias \ e vives dando floração viçosas, ó meu doce rosal de Ave Marias!” (Primo Vieira).
Mês de maio, Mês de Maria. Rosas de preces, preces de Ave Marias.
Dom Benedicto de Ulhoa Vieira
Arcebispo Emérito de Uberaba (MG)
Fonte::CNBB